Contos


Rosas Negras!!

Em plena noite obscura, sai das sombras um rosto toldado e belo. Longos cabelos negros como a noite sem estrelas, lábios carnudos desejados por muitos, olhos verdes que choravam negro cintilavam na noite enigmática de sons cativantes. Brisas quentes brincavam entre as cortinas velhas da grande mansão, criando a ilusão de vestidos dançantes. A luz trémula das velas criavam formas nas paredes de seda. Formas assombradas que pareciam conversar entre si… conspirar…
Clara olhava extasiada a lua cheia dourada, enquanto lágrimas negras escorriam-lhe pela sua pele de porcelana. Ignorava as lágrimas, desconhecendo a razão do seu lamento. Em sua mente , um jovem de cabelos pretos e ondulados, olhos vermelhos como uma pura gota de sangue, corpo definido capaz de a carregar por entre as épocas de dor. Os seus lábios gotejavam o sangue de épocas passadas… o precioso pulso da vida… Traçava cada linha do seu rosto com o mais perfeito pormenor, no entanto, sem o nunca ter visto… nunca o ter sentido nos seus braços.
O fino véu de Clara  deslizava pelo seu corpo belo e esbelto. Fechou os olhos e deitou-se em sua cama adornada dos mais caros tecidos. Caída de braços abertos como esperasse pela sua sepultura, contemplava o quarto obscuro vendo-se envolvida pelas trevas que lá povoam. Amor pelo homem de seus sonhos, a cravava-se no seu coração sedento de paixão sem fim. Privada desse amor, apenas jazia na sua cama, imaginando esse cônjuge sem nome.
Noites passadas na companhia do silêncio cortante tornavam Clara mais carente. As horas pareciam anos sem fim. A comida era como cinza na sua boca. Apaixonara-se por um imaginário. Sonhava com ele, noite atrás de noite. As suas pinturas revelavam-no a segurar uma rosa negra onde uma gota de sangue repousava. As luzes das velas dançavam em seu redor sempre que se sentava no mármore frio da sua varanda enfeitada de rosas. Segurava numa e suspirava. Fantasiava com o terno e sedutor toque do seu amor ideal. Nas vezes em que ele assombrava os seus sonhos, Clara entoava tristes melodias e chorava as lágrimas negras, a sua única companhia.
Noite em que o vento gelava a cada toque, uma sombras movia-se pela luz dourada da Lua. A pele branca e fria era iluminada fantasmagoricamente, enquanto dois olhos fixavam o ebúrneo belo.
Saída duma de gala em que mil e uma cor brilhavam, vestidos coloridos bailavam, Clara agarrava a orla do seu negro vestido de veludo, adornado de violeta. Os seus cabelos presos com lindas rosas e contas, deixavam cair fios negros. A pintura negra deitava no seu olhar uma beleza lúgubre que era impossível negar. O seu quarto estava como todas as outras vezes. Vazio. Atemorizado. Silencioso. Maravilhosas reminiscências vinham da varanda.Clara dirigiu-se para esse refúgio onde poderia voltar a escapar da realidade.
A luz da Lua brilhava nos seus olhos. Olhou para a floresta obscura que se erguia perante si, escondendo segredos moribundos, prazeres carnais e fadas nefastas. Aromas pestíferos erguiam-se do oprimido pântano de águas mortais. O coaxar dos sapos ouvia-se como uma suave melodia que sulcava o ar. A água ao pé da mansão brilhava como a prata proibida prendendo qualquer um ao seu encanto funesto. Nela, onde a lua cheia se enxergava, uma sombra movia-se lentamente.
A alma de Clara agitara-se como se mil lanças a tivessem para transpassar. Um clarão de luz iluminou a face do desconhecido. No seu coração, sentiu a dor dos dias passados… O seu interno amado encontrava-se ali abaixo dos seus pés. As gotas de sangue dos lábios brilhavam … belos olhos como agulhas intrigavam os seus admiradores…
"Meu amor…" murmurou Clara. Num breve momento ele olhou para os belos olhos da sua apaixonada. Lágrimas começaram a descer dos olhos de clara, desenhando o preto na pele.
"Clara…" As palavras deixaram Clara louca de amor, um amor efémero. Este deixou na margem das águas cintilantes uma rosa negra, e envolvido pelas trevas mortais, desapareceu sem deixar rasto.